17/06/2014

Facilitando a leitura ou o assassinato de um clássico?

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Só hoje me deparei com uma matéria que achei que fosse somente boato quando ouvi pela primeira vez. Resolvi navegar por blogs e páginas de canais literários até que vi um comentário sobre a notícia e cliquei no link.
Minha primeira reação foi ler a notícia 3x, pois achei que não tinha compreendido de fato o que estava sendo noticiado, mas eu entendi sim, estão querendo assassinar obras clássicas.
Bom, para quem ainda não entendeu o que estou falando eu vou fazer um breve resumo: A senhora Patrícia Secco quer descomplicar as obras de Machado de Assis, trocando as palavras "difíceis" que ele usa em seus textos por palavras mais comuns e simples de se entender, com o objetivo de que os jovens se interessem pelos livros do autor. (ps: ela pretende fazer isso com outros livros de outros autores clássicos também como José de Alencar, por exemplo)
O que mais me deixa irritada e indignada com essa situação é o fato de que ela irá lançar um livro "versão" de uma obra de Machado de Assis dizendo que é Machado de Assis, e não é!
Se o problema é que as pessoas não gostam de ler Machado de Assis, pra mim já ta resolvido. Eu nunca li Machado de Assis e não me sinto pior ou melhor por isso. Tentei uma vez quando era adolescente e realmente não curti, porém colocar palavras mais simples no texto não vai fazer com que as pessoas se interessem pelo enredo.
Machado de Assis é assim e ponto. Não temos que mudar as palavras de sua obra para que ele se torne queridinho entre os jovens. Mas Patrícia não pensa assim né? Uau!!! Trocaram a palavra "sagacidade" por "esperteza". Pronto! Resolvido o problema, agora todos vão ler Machado de Assis e amar! #SQN
Além desse assassinato a obra dele, outro ponto que me deixa indignada é o fato da nossa sociedade querer facilitar TUDO para o jovem. Poxa, se tem 5 palavras que eles não conhecem em cada frase, eles precisam ler sim essas palavras, procurar os significados no dicionário e assim aumentar seu repertório linguístico. Esse não é um dos objetivos da leitura? Aumentar meu repertório de palavras? Fazer com que a pessoa descubra coisas e palavras novas é uma das coisas que o livro proporciona. E porque estão achando que temos que facilitar? Gente, o jovem recebe hoje tudo mastigado, temos que interpretar por ele e lhe entregar a informação pronta, temos que facilitar sua vida tirando do caminho as dificuldades, agora vamos facilitar a leitura de clássicos para que eles possam ler?
PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
Não é possível que um projeto desses receba apoio. Cadê o governo para barrar esse absurdo?
Estamos formando um bando de jovens coxinhas, retardados, que não sabem interpretar, criticar, opinar e agora que também não sabem ler palavras "difíceis". É por isso que vemos hoje nas universidades um monte, um monte mesmo, de jovens semi analfabetos tentando cursar uma faculdade sem o mínimo de preparo.
Se o cara não quer ler Machado de Assis, não gosta de ler Machado de Assis e está pouco se fodendo pro Machado de Assis, deixa ele ler o que ele gosta, deixa ele adquirir o hábito da leitura para inserir em sua vida obras mais "complexas", de leituras mais "difíceis", deixa ele descobrir esse mundo através de outros autores. Não é "traduzindo" uma obra clássica que iremos aumentar o número de leitores. Talvez muita gente leia sim esse livro "traduzido", porém não estarão lendo Machado de Assis de verdade, o que torna o objetivo do projeto uma grande idiotice.

E você, o que pensa sobre isso?

Ficou interessado na matéria? Ela é da Folha de São Paulo é só clicar para ler.




Update!
Li mais algumas matérias que saíram depois e achei que os depoimentos da Patrícia só pioraram a situação.
Para o Estado de São Paulo ela disse:

depoimento 1

Como diria nosso filósofo João Cleber... Para! Para! Para! Para! Para! Para!!!!
Minha empregada doméstica não sabe quem é Machado de Assis, aí você deduz que ela não conhece porque é difícil de ler, então você "traduz" a obra, deixando mais simples (já que essa pobre doméstica não é capaz de compreender as palavras que estão na obra original), subestimando a capacidade de compreensão dela. É isso dona Patrícia?

Ah! Calma! Ela ainda acrescenta o seguinte...

depoimento 2

Tive a ligeira impressão de que ela está duvidando da capacidade de compreensão do  Sr. José, o eletricista.
Não acho que ele não possa ler, mas se a obra foi escrita assim o Sr. José precisa ler a obra assim. Porque vou modificar o que está escrito, deixando mais simples? José não é capaz de usar o dicionário quando for preciso? José não pode aprender palavras novas?
Porque nivelar para baixo a leitura? O José precisa progredir para ler e compreender Machado e não a obra se simplificar para que José leia tranquilamente.


O Danilo Venticinque publicou uma matéria na Época dizendo que estamos fazendo uma choradeira, que isso será bom e que essa obra não irá impedir que os alunos aumentem seu vocabulário. Ele bate na tecla de que os jovens esbarram com palavras difíceis e largam o livro e recorrem a resumos. Bom, porque então estamos obrigando os jovens a ler livros que eles não querem? Porque todos os anos vemos os mesmos livros no vestibular?


O José Maria e Silva do Jornal Opção cortou pra 18 e falou poucas e boas! Uma ótima matéria, vale a pena ler!


Eu estou com Zé Maria e não abro! Dona Patrícia está fazendo caquinha sim!
E você, o que achou?

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